Percorrem-se uns largos quilómetros de estrada sem avistar qualquer povoação até se chegar a Val de Poldros, a 1200 metros de altitude, com uma vista imponente da serra da Peneda.

Às portas do Parque Nacional da Peneda Gerês, Val de Poldros é uma pequena aldeia do concelho de Monção onde apenas vive uma pessoa. Mas não é uma aldeia qualquer e, para dizer a verdade, provavelmente nem lhe deveríamos chamar aldeia, mas sim branda. É que Val de Poldros nunca foi local de habitação permanente

Para compreender a história de Val de Poldros, é preciso saber primeiro o que é uma Branda. As brandas eram pequenos aglomerados de habitações temporárias situadas a altitudes elevadas e espalhadas um pouco por todo o Parque Nacional da Peneda Gerês. Era para aqui que os pastores traziam o seu gado nos meses mais quentes da Primavera e do Verão. 

Para trás ficavam as Inverneiras, localizadas a altitudes mais baixas, onde a população vivia durante os meses mais frios. Os motivos dessa constante mudança entre brandas e inverneiras é fácil de perceber: vivia-se no local que proporcionava melhores condições consoante a época do ano. 

 

 
 
 
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Assim, durante os meses frios do Inverno, a população abrigava-se nas baixas altitudes, onde o clima era menos extremo e onde era possível cultivar alguns vegetais. No Verão, os pastores levavam o gado para as zonas mais altas, onde havia bons pastos, libertando assim os terrenos das inverneiras para as plantações agrícolas.

Este fenómeno chama-se transumância e foi praticado durante séculos pelas populações do Parque Nacional da Peneda Gerês. As duras condições da região assim o ditavam e os seus habitantes, munidos apenas da sua sabedoria popular, adaptaram-se e sobreviviam como podiam.

 

 

A transumância já quase não se pratica, embora algumas aldeias do Parque Nacional da Peneda Gerês continuem ainda a manter viva esta tradição, nem que seja por uma questão de honra. É o caso de Fafião, por exemplo, onde ainda hoje, a cada ano, os homens transportam os seus rebanhos para o alto da montanha.

No caso de Val de Poldros, a Inverneira era a aldeia de Riba de Mouro, situada a 10 quilómetros de distância. Existem cerca de 10 brandas no Alto Minho e Val de Poldros é uma das mais bem conservadas de todas elas. Nos últimos anos tornou-se especialmente conhecida por se ter tornado local de habitação permanente de uma única pessoa.

 

 

Trata-se de um antigo emigrante em Andorra que regressou à sua terra natal e por aqui decidiu viver a tempo inteiro, mesmo que ninguém mais o faça. Para combater a solidão, abriu um restaurante onde serve pratos típicos feitos com produtos regionais. Não existe menu: quem aqui chega come aquilo que houver, o que torna este local ainda mais especial.

Cada vez mais pessoas visitam Val de Poldros, especialmente durante os fins de semana. Chegam aqui motivados pela curiosidade em conhecer a aldeia onde apenas vive uma pessoa. Para além do seu único habitante, encontram ainda as típicas cardenhas, as antigas habitações dos pastores, que abrigavam o gado no rés-do-chão. 

Algumas destas cardenhas têm sido recuperadas e, parte delas, reconvertidas em unidades de turismo rural com todo o conforto que se exige nos dias de hoje. São uma ótima opção para quem visitar a região e pernoitar numa típica e tradicional habitação de pedra que nos transporta no tempo.

 

 
 
 
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Uma das melhores formas de explorar as redondezas é realizando o percurso pedestre “trilho de Santo António de Val de Poldros”. São pouco mais de 10 quilómetros, de dificuldade moderada, que permitem conhecer as cardenhas e que entra também pelos caminhos percorridos pelos carvoeiros que antigamente se dirigiam à montanha em busca de urze para produzir carvão de qualidade superior.

Ao longo do percurso é ainda possível avistar manadas de éguas, que explicam o nome da terra: “poldros” ou “poldras” significa potro, que designa um cavalo novo, com menos de 1 ano de idade. E pode ainda ver os “quartéis”, locais de abrigo dos romeiros que aqui chegam para benzer o gado todos os anos no dia de Santo António.

Aliás, dizem os mais velhos que, antigamente, esta romaria era a melhor forma de arranjar namorado ou namorada em toda a região. Brincava-se mesmo que, caso não conseguissem arranjar par na romaria de Santo António de Val de Poldros, dificilmente o conseguiriam fazer durante o resto do ano.

 

 
 
 
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Verdade ou não, esta pequena curiosidade atesta apenas um facto indesmentível: o extremo isolamento destas populações ao longo dos séculos. Trata-se de povoações cuja população se habituou a depender apenas de si própria e a viver em comunidade. Por isso mesmo existiram tantas aldeias comunitárias no Parque Nacional da Peneda Gerês e nos seus arredores.

E se gosta de este tipo de histórias e locais, nos arredores de Val de Poldros pode visitar uma outra branda: a Branda da Aveleira. Também este local tem sentido uma nova dinâmica nos últimos anos, com casas a serem recuperadas para turismo rural e com mais turistas a visitá-la.









 

 

Como anfitrião, temos Fernando Gonçalves, 48 anos, o único habitante da aldeia, que regressou à terra natal em 2004, depois de ter estado como emigrante em Andorra.

Era tanto o silêncio que parecia que fazia mal, recorda. Ultrapassou o isolamento com a abertura de um restaurante que, actualmente, recebe clientes fiéis de paragens mais ou menos distantes, muitos deles de Espanha. Fui aprendendo com eles o que deveria pôr na mesa”, conta. Depende da época do ano e do que tenho à mão.

 

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