A paradisíaca aldeia Portuguesa onde apenas vive uma pessoa
Percorrem-se uns largos quilómetros de estrada sem avistar qualquer povoação até se chegar a Val de Poldros, a 1200 metros de altitude, com uma vista imponente da serra da Peneda.
Às portas do Parque Nacional da Peneda Gerês, Val de Poldros é uma pequena aldeia do concelho de Monção onde apenas vive uma pessoa. Mas não é uma aldeia qualquer e, para dizer a verdade, provavelmente nem lhe deveríamos chamar aldeia, mas sim branda. É que Val de Poldros nunca foi local de habitação permanente
Para trás ficavam as Inverneiras, localizadas a altitudes mais baixas, onde a população vivia durante os meses mais frios. Os motivos dessa constante mudança entre brandas e inverneiras é fácil de perceber: vivia-se no local que proporcionava melhores condições consoante a época do ano.
Ver esta publicação no Instagram
Este fenómeno chama-se transumância e foi praticado durante séculos pelas populações do Parque Nacional da Peneda Gerês. As duras condições da região assim o ditavam e os seus habitantes, munidos apenas da sua sabedoria popular, adaptaram-se e sobreviviam como podiam.
Ver esta publicação no Instagram
No caso de Val de Poldros, a Inverneira era a aldeia de Riba de Mouro, situada a 10 quilómetros de distância. Existem cerca de 10 brandas no Alto Minho e Val de Poldros é uma das mais bem conservadas de todas elas. Nos últimos anos tornou-se especialmente conhecida por se ter tornado local de habitação permanente de uma única pessoa.
Ver esta publicação no Instagram
Cada vez mais pessoas visitam Val de Poldros, especialmente durante os fins de semana. Chegam aqui motivados pela curiosidade em conhecer a aldeia onde apenas vive uma pessoa. Para além do seu único habitante, encontram ainda as típicas cardenhas, as antigas habitações dos pastores, que abrigavam o gado no rés-do-chão.
Algumas destas cardenhas têm sido recuperadas e, parte delas, reconvertidas em unidades de turismo rural com todo o conforto que se exige nos dias de hoje. São uma ótima opção para quem visitar a região e pernoitar numa típica e tradicional habitação de pedra que nos transporta no tempo.
Ver esta publicação no Instagram
Uma das melhores formas de explorar as redondezas é realizando o percurso pedestre “trilho de Santo António de Val de Poldros”. São pouco mais de 10 quilómetros, de dificuldade moderada, que permitem conhecer as cardenhas e que entra também pelos caminhos percorridos pelos carvoeiros que antigamente se dirigiam à montanha em busca de urze para produzir carvão de qualidade superior.
Ao longo do percurso é ainda possível avistar manadas de éguas, que explicam o nome da terra: “poldros” ou “poldras” significa potro, que designa um cavalo novo, com menos de 1 ano de idade. E pode ainda ver os “quartéis”, locais de abrigo dos romeiros que aqui chegam para benzer o gado todos os anos no dia de Santo António.
Aliás, dizem os mais velhos que, antigamente, esta romaria era a melhor forma de arranjar namorado ou namorada em toda a região. Brincava-se mesmo que, caso não conseguissem arranjar par na romaria de Santo António de Val de Poldros, dificilmente o conseguiriam fazer durante o resto do ano.
Ver esta publicação no Instagram
Verdade ou não, esta pequena curiosidade atesta apenas um facto indesmentível: o extremo isolamento destas populações ao longo dos séculos. Trata-se de povoações cuja população se habituou a depender apenas de si própria e a viver em comunidade. Por isso mesmo existiram tantas aldeias comunitárias no Parque Nacional da Peneda Gerês e nos seus arredores.
E se gosta de este tipo de histórias e locais, nos arredores de Val de Poldros pode visitar uma outra branda: a Branda da Aveleira. Também este local tem sentido uma nova dinâmica nos últimos anos, com casas a serem recuperadas para turismo rural e com mais turistas a visitá-la.
Como anfitrião, temos Fernando Gonçalves, 48 anos, o único habitante da aldeia, que regressou à terra natal em 2004, depois de ter estado como emigrante em Andorra.
Era tanto o silêncio que parecia que fazia mal, recorda. Ultrapassou o isolamento com a abertura de um restaurante que, actualmente, recebe clientes fiéis de paragens mais ou menos distantes, muitos deles de Espanha. Fui aprendendo com eles o que deveria pôr na mesa”, conta. Depende da época do ano e do que tenho à mão.