Os 20 castelos dos Templários em Portugal


FUNDAÇÃO DA ORDEM DO TEMPLO A Ordem do Templo foi fundada em Jerusalém, em 1118 ou 1119, por um grupo de nove cavaleiros franceses, para a defesa e proteção dos peregrinos que visitavam a Terra Santa. Designados inicialmente Pauperi Equites Christi ou Militia Christi, passam a denominar-se Milites Templo, após o rei Balduíno II lhes ter doado uma parte da sua residência, identificada com o antigo Templo de Salomão, o que lhe confere a denominação de Ordem do Templo ou dos Templários.




A regra dos freires foi redigida por São Bernardo de Claraval e aprovada no Concílio de Troyes, em janeiro de 1128. Entre 1128 e 1139, a Ordem do Templo, composta por monges guerreiros, difunde-se para ocidente, na sequência da viagem realizada por Hugues de Payens, o seu primeiro grão-mestre e principal fundador, por diversos reinos na tentativa de obter novos apoios. A expansão territorial obriga à designação de comendadores para as novas províncias (França e Inglaterra, Poitou, Aragão, Portugal, Apúlia e Hungria), o que revelará que a subordinação exclusiva ao patriarca de Jerusalém era inadequada, e consequentemente levará à mudança de tutela para a Santa Sé.




Assim, pela bula Omne Datum Optimum, de 29 de março de 1139, o papa Inocêncio II reconhece oficialmente a Ordem do Templo, aprova a sua Regra, declara a ordem sob a proteção exclusiva do papa, confirma ao segundo mestre, Robert de Craon, os privilégios já recebidos e concede-lhes outros, nomeadamente o direito de ter os seus próprios capelães e a livre utilização dos despojos dos infiéis


Castelo de Soure






Castelo construído no séc. 11, entre 1065 e 1091, por D. Sesnando, alvazil de Coimbra, e reformado pela Ordem do Templo, pouco depois de lhe ter sido doado, em 1128, e ainda no terceiro quartel do séc. 12, numa importante zona de fronteira entre o território cristão e muçulmano, que permitia controlar a via romana que, saindo de Olisipo (Lisboa), se dirigia a Aeminum (Coimbra) e daí a Bracara Augusta (Braga).




A doação de Soure aos Templários revela preocupação com a defesa da cidade de Coimbra, que se tornaria a capital do reino até 1255, e desempenhou um papel fundamental no processo da Reconquista do Mondego, formando linha com os castelos de Germanelo (Rabaçal), de Santa Olaia, Miranda do Corvo (os dois últimos já desaparecidos), Montemor-o-Velho, Penela e Lousã.




Ao contrário da maioria das fortificações desta linha de defesa avançada de Coimbra, que são roqueiras, o castelo de Soure foi implantado em terreno plano. Segundo Mário Barroca, o castelo apresentava inicialmente uma planta retangular irregular, possivelmente sem torres nem cubelos, com porta relativamente ampla, rasgada ao nível do piso térreo, que possuía também seteiras retilíneas, ainda visíveis a nascente e a sul.




Os paramentos da face interior desta fase revelam os apoios do segundo piso sobradado, a área residencial, que é rasgado por vãos de diferentes épocas, tendo a nascente três ajimezes proto-românicos ou até posteriores, com os arcos geminados ornados com friso de pontas de diamante, e a sul um outro entaipado.

Estes ajimezes, pela singela gramática decorativa e pela tipologia dos pequenos capitéis dos mainéis centrais, podem ser estilisticamente atribuídos à segunda metade do séc. 11, ou seja, à época de D. Sesnando.

A segunda fase construtiva ocorreria após a sua transformação em casa-mãe dos Templários, consistindo na construção de, pelo menos, duas torres flanqueando a frente sul, a mais desprotegida e virada ao rio, a subsistente a sudoeste, parcialmente apoiada na espessura da muralha pré-existente, e a de sudeste demolida no séc. 19, mas cujos vestígios ainda são visíveis na estereometria da muralha leste, e no vão, que lhe dava acesso.

A torre subsistente, com alambor nas três faces, inovação arquitetónica introduzida pela Ordem, desenvolve-se em três pisos, com zona térrea maciça, e acesso sobrelevado, por porta reaproveitando um ajimez, com friso de folhas de videira entre dois encordoados, cujos caules deveriam sair, de um cantaurus religioso que ocupava o mainel desaparecido. Para Mário Barroca (1990, p. 120), este ajimez parece obedecer aos cânones estéticos visigóticos, mas tem dúvidas se não será um exemplar posterior, moçárabe, da primeira metade do séc. 11, como sugere Carlos A. Ferreira de Almeida.

O caráter sacro da iconografia do ajimez, reforçada pelas duas patenas crismalis, indicia ser proveniente de uma estrutura religiosa, possivelmente do Mosteiro de Soure, arruinado em 1116, quando a povoação foi incendida pelos habitantes, e reaproveitado no castelo depois de 1128 *4. Para Mário Barroco, a terceira fase resultou na construção da torre norte, por volta de 1175, que ele pensa ser a de menagem. Esta tem alambor na face nascente, tal como o pano de muralha, cujo ângulo é bastante possante, e junto à qual se desenvolveria exteriormente outra estrutura, conforme denota o aparelho.

No último piso da face interna subsistente abre-se vão em arco ultrapassado, moçárabe, onde se construiu posteriormente um balcão. Após a extinção da Ordem do Templo, o castelo foi integrado na Ordem de Cristo, passando a funcionar como paço do comendador. Na transição do séc. 15 / 16, foi reformado por D. Manuel, datando desse período o portal apontado e biselado da torre sudoeste, que daria acesso a construções desenvolvidas exteriormente à fortificação, bem como a janela mainelada com conversadeiras, a poente.




 

Castelo de Pombal

 



 

Castelo românico construído no séc. 12, pela Ordem do Templo, em local estratégico para a organização da defesa a sul de Coimbra, reforçado por várias linhas de barbacã, no séc. 14 ou 15, reformando-se o seu paço interior, no início do séc. 16, e sendo profundamente restaurado no séc. 20, sob o plano dos Centenários. Inserido num território doado em 1128 por D. Teresa aos Templários, segundo Mário Barroca, só em 1156 seria construído o castelo, constituindo uma das primeiras iniciativas do mestre D. Gualdim Pais à frente da milícia, possivelmente ainda sem torre de menagem.




Apresentaria então planta ovalada irregular, composta por muralha e dez torres, retangulares ou quadrangulares, a reforçar as suas inflexões ou a longa frente retilínea, a nascente, numa distância média de cerca de 10 metros, aspetos que Mário Barroca considera revelar notável conceção e invulgar para a época e panorama nacional, fazendo recordar alguns paralelos dentro das fortalezas almorávidas.




Os paramentos aprumados, em alvenaria de pedra e cunhais de cantaria, rematariam, possivelmente, em parapeito ameado, tal como acontecia em 1508, sendo interiormente percorridos por adarve.

Inicialmente teria, pelo menos, uma porta de acesso, rasgada num apertado pano de muralha, flanqueado por torres, à semelhança do que acontece no castelo de Tomar (v. IPA.00003390). Os dois panos de muralha que ladeiam, à esquerda, a porta possuem pequeno alambor, visível após as obras de restauro. A torre de menagem só seria construída em 1171, isoladamente e quase em frente da porta, com planta quadrada e paramentos aprumados com alambor pétreo, de modo a manter afastado os engenhos de assalto e os assaltantes, inspirado na arquitetura militar dos Cruzados, no Próximo Oriente, o qual é menos saliente na face principal, por esta possuir também contrafortes laterais, de modo a conferir maior estabilidade à torre, o que a faz parecer mais larga e menos alta do que realmente é.




Tem acesso sobrelevado, na face oposta à entrada do castelo, por porta de verga reta, possuindo interiormente três pisos, o térreo fechado e os restantes com pouca iluminação por seteiras retilíneas. No séc. 14 / 15, o castelo seria envolvido por barbacã, reforçada em frente das portas, e por uma segunda linha de muralha, de nascente a sul, aí integrando torres e possuindo porta de acesso, que integraria a Igreja de Santa Maria do Castelo. As barbacãs são descritas no Tombo de 1508 e ainda representadas numa planta de 1920, tendo as suas estruturas consolidadas e parcialmente reconstruídas nas obras da década de 1930.




A barbacã da porta sudeste é rasgada por longas seteiras, revelando grande modernidade. Talvez ainda nos séc. 14 / 15, os edifícios do recinto seriam convertidos em paço, o qual estava a ser remodelado no início do séc. 16, por ordem de D. Manuel, altura em que a porta principal é transferida para a frente noroeste, um pano de muralha mais desafogado e virado à vila, e encimada pelas armas do rei, como regedor e administrador da Ordem.




O paço que se desenvolvia em U, à volta das muralhas, era composta por várias dependências sobradadas, algumas abobadadas, com vãos rasgados na muralha e virados ao pátio, onde ficava a cisterna e uma capela. Após a cedência da alcaidaria aos condes de Castelo Melhor, no séc. 17, um dos alcaides coloca o brasão de família num dos vãos exteriores do paço.







Castelo de Tomar

 



Fortificação românica construída no séc. 12, pela Ordem do Templo, em local estratégico para a defesa do território de fronteira e suporte no avanço da conquista além Tejo, sobre estruturas urbanas muçulmanas fortificadas, tendo recebido algumas adaptações à pirobalística e uma barbacã no séc. 15, podendo ser considerada a ex-libris das fortificações Templárias em Portugal, não só pela grande dimensão, como pelas soluções arquitetónicas adotadas.




Segundo Mário Barroca, a sua estrutura, denotando particular cuidado, visto ter sido concebida para albergar a sede da Ordem, segue o modelo das fortificações típicas do sul, composto por Almedina, pátio e alcáçova, esta disposta na zona mais alta da colina, e desenvolvida entre dois polos: o militar, com o castelo, que constitui o último reduto, e o religioso, com a charola, que servia simultaneamente de torre de defesa.




Para o mesmo autor, as obras decorreram entre 1160 e 1169 e absorveram todo o esforço construtivo da Ordem durante uma década, o que explica a rapidez da construção e a inexistência de obras noutros castelos, até 1171. As estruturas da alcáçova, do castelo e da Almedina, com planta poligonal irregular, implantam-se magistralmente aos contornos irregulares do terreno, formando esporão, e apresentam, ao longo de todo o seu perímetro exterior, possante e volumoso alambor pétreo, de modo a manter afastado os engenhos de assalto e os assaltantes, sendo apenas interrompido nas portas.




São compostas por muralhas reforçadas por torres ou cubelos, quadrangulares e semicirculares, estes abertos na gola, de paramentos aprumados, em alvenaria de pedra, revelando sucessivas reformas ao longo do tempo, rematados em parapeito com ameias de corpo largo, rasgadas por troneiras cruzetadas que, apenas numa pequena parte do castelo devem corresponder à reforma do séc. 15, e sendo as restantes fruto das obras de restauro da DGEMN, e seteiras retilíneas, em alguns cubelos em dois níveis, interiormente percorridos por adarve.




Segundo Mário Barroca, a inovadora solução arquitetónica do alambor inspira-se na arquitetura militar dos Cruzados, no Próximo Oriente, com a qual o mestre Gualdim Pais tomou contacto durante os cinco anos que ali permaneceu, nomeadamente dos castelos de Soane, no Principado de Antioquia, e no de Crac dos Cavaleiros, na fronteira norte do Condado de Tripoli, ambos com alambor nos núcleos centrais dos castelos. O alambor será utilizado noutras fortificações, especialmente pela Ordem, a envolvê-las parcial ou completamente, como no caso do castelo de Montalvão (v. IPA.00027855), contudo, em nenhum dos casos atingirá extensão, dimensão e volume semelhante ao empregue em Tomar. O castelo, acedido a partir da alcáçova, possui planta poligonal, de pequenas dimensões, e é composto por duas torres mais altas que as muralhas, uma quadrangular e outra pentagonal, que permitiam cobrir as portas do pátio e do castelo, respetivamente, uma prismática, mais baixa, a meio da frente exterior, e ampla torre de menagem retangular, no interior do reduto, perto da entrada, possivelmente isolada e posteriormente interligada à muralha, comandando todo o sistema defensivo e controlando o acesso.




Possuía alambor a contornar não só toda a muralha virada ao exterior, mas também na face virada ao pátio e à alcáçova, onde foi desbastada nos restauros do séc. 20. O único portal de acesso é seiscentista, de verga reta, com decoração já impercetível. A torre de menagem, a mais antiga que se conhece em Portugal e datada por inscrição, não tem alambor, como noutros castelos da Ordem, possivelmente devido à exiguidade do pátio.




Os paramentos reaproveitam silhares de construções romanas, visigóticas e moçárabes, refletindo o ritmo acelerado da construção e a zona superior resulta de um alteamento ou reconstrução do sec. 15, data em que se abrem as troneiras cruzetadas. Interiormente tem quatro pisos, o térreo fechado, acedido por alçapão, e os superiores com pavimento cerâmico antigo e coberturas em abóbadas, renascentistas, sendo o seu acesso sobrelevado. O pátio possui pequenas dimensões, sobretudo devido aos edifícios aí construídos, que determinaram a abertura de janelas conversadeiras retilíneas na muralha nascente, e outros vãos na torre de menagem, no séc. 15 / 16. Contém ainda cisterna de planta em V, de duas naves, seccionadas por arcos.




A alcáçova desenvolvia-se a partir do castelo até à charola, e foi parcialmente ocupada com as construções do convento. Mais próximo do castelo subsistem os restos dos Paços Mestrais ou henriquinos, da 1.ª metade do séc. 15, com paramentos do piso térreo de bastante espessura, integrando junto à muralha norte escada de caracol, e tendo a poente dependências separadas por amplos arcos apontados, e o piso superior com janelas conversadeiras, rasgadas na muralha norte e na fachada a sul, e ao pátio. A charola, que integrava a frente noroeste da muralha e cuja construção deverá ser ligeiramente posterior à fortificação, substituindo possivelmente uma outra torre mais simples, deveria ter a dupla função de templo privativo da Ordem e de defesa. A sua tipologia procura evocar dois dos mais relevantes monumentos sagrados do cristianismo: o Santo Sepulcro e o Templo de Salomão. No séc. 16, foi transformada na capela-mor de um templo longitudinal maior, a partir do qual se construirão várias outras dependências conventuais, que truncaram a fortificação na frente poente.




Segundo Lacerda Machado, a alcáçova devia ter uma pequena porta da traição, aberta na muralha nascente, nas imediações da charola. O pátio, bastante amplo, desenvolve-se entre a alcáçova e a Almedina, separando-se de ambos por muralha ameada com porta. Pelo menos a partir do início do séc. 16, permanece desimpedido, tendo sido, talvez nas obras de embelezamento para receção do rei D Filipe I, em finais da centúria, re-estruturado e alteado em cerca de 2 m, conduzindo ao entaipamento da porta que ligava à Almedina, atualmente apenas visível na face sul.




No ângulo sudeste do pátio, onde se faz a inflexão da muralha, a torre da Rainha, com planta quadrada, foi reformada por D. Catarina, em 1533, tendo recebido janelas maineladas nas faces viradas à cidade. Em frente desta, três anos depois, foi construída ampla cisterna retangular, com portal contendo cartela inscrita e interior abobadado, ambos de decoração renascentista. Perto da porta do sol subsistem vestígios tardo medievais da igreja de Santa Maria que, desde o séc. 12, servia a população intramuros.




A Almedina desenvolve-se no limite sul da fortificação, na zona mais baixa e acompanhando o declive da colina, tendo sido abandonada pela população, no início do séc. 16, por determinação de D. Manuel, de modo a reservar toda a zona intramuros para o convento. A denominada torre da Condessa, no limite sudoeste, tem planta circular e foi reformada no séc. 20. A partir desta, a muralha infletia para norte, até à charola, subsistindo apenas um pequeno troço de muralha e outro de alambor, este sob a fachada poente da inacabada casa do capítulo dos cavaleiros.




As portas de acesso ao recinto fortificado, quer a do pátio (porta do sol), a nascente, quer a da Almedina (porta do sangue), a sul, rasgam-se em panos de muralha bastante re-entrantes, e protegidas pelo próprio alambor e por torres, sendo a do pátio coberta por um cubelo semicircular e pela torre poligonal do castelo, e a da Almedina flanqueada por torres quadrangulares, que permitiam tiro flanqueado.

A do sol tem arco apontado, de feitura mais tardia, e a do sangue arco de volta perfeita, encimada, na face interior, por cruz lanceolada. A zona entre a torre da Rainha e a porta do sangue tem cubelos com seteiras rasgadas em função do alambor, permitindo não só tiro flanqueado sobre a muralha, mas também tiro direito sobre a base do alambor. A barbacã da porta, construída no séc. 15 para reforço da porta do sol, não possui alambor e as muralhas são aprumadas e rematadas em parapeito de ameias de corpo largo, com troneiras cruzetadas.







Castelo de Almourol

 



Castelo construído de raiz no séc. 12, conforme documentado pelas inscrições datadas de 1171, pela Ordem do Templo, numa ilha rochosa do rio Tejo, constituindo possivelmente o castelo medieval português mais emblemático. Implantado estrategicamente para controlar um vau onde se transpunha o Tejo e, simultaneamente, a estrada medieval que passava por Tomar e seguia pela Ladeia até à zona de Coimbra, integra-se na rede defensiva do vale do Tejo e formava linha com os castelos Templários do Ozêzere e Cardiga (v. IPA.00002038), ambos na margem norte. Apresenta pequenas dimensões mas, segundo Mário Barroca, é um castelo de grande requinte construtivo, revelando os conhecimentos e a mestria dos Templários na arquitetura militar e um extraordinário aproveitamento do local.




De facto, tem planta irregular, composta por dois recintos independentes, isolados por uma muralha interna, revelando uma conceção moderna de espaço, visto permitir que, uma vez ultrapassada a primeira porta, as forças inimigas não acedessem a todo o castelo, mas apenas à parte inferior, sobre a qual era possível fazer tiro a partir de adarves superiores.




As muralhas adaptam-se à topografia do terreno procurando, no entanto, regularizar o seu perímetro, adotando sempre que possível troços retilíneos, com as inflexões reforçadas por cubelos semicirculares ou ultra-semicirculares, por vezes com grande desprendimento dos muros, favorecendo o tiro flanqueado, tendo talude, especialmente na frente norte, e remates em parapeito ameado com seteiras rasgadas ao nível do adarve interior, estreito e desenvolvido na espessura dos muros.

O recinto inferior, numa cota rebaixada, possui os topos delimitados por panos de muralha mais elevados e que, desprendendo-se do circuito superior do adarve, avançam até às torres dos extremos, funcionando como uma couraça, com parapeito ameado de ambos os lados, permitindo a defesa eficaz da guarnição em relação ao exterior e ao pátio inferior, caso fosse tomado, constituindo, segundo Barroca, uma solução muito original e, ao que parece, inexistente em nenhum outro castelo português.

É sob uma destas couraças que se procede o acesso ao interior, por porta em arco de volta perfeita, abrindo-se a porta da traição em local de difícil acesso, a meio da frente sul.




Neste lado da muralha adossavam-se as habitações da guarnição, com dois pisos, o segundo rasgado para o exterior por seteiras e dois ajimezes, singelos, já sem mainel. No topo da muralha intermédia que subdivide os dois recintos e que integra a torre de menagem, abre-se a porta para o pátio superior, também em arco de volta perfeita.




O pátio superior é circundado por muralhas igualmente com adarve e seteiras, abrindo-se na frente norte e poente seteiras num nível inferior, existindo inferiormente mísulas, talvez de antigas construções ou de suporte de um outro adarve independente. A torre de menagem, uma das cinco torres de menagem portuguesas mais antigas e datadas, tem paramentos aprumados, rematados em parapeito ameado, interiormente com três pisos, com acesso sobrelevado e rasgados por seteiras e, no último piso, duas janelas, uma delas com conversadeiras.




O reaproveitamento de materiais mais antigos, como uma inscrição funerária romana na face interna da porta, pequenos fragmentos de frisos, talvez visigóticos, no alto da muralha interna, denota certa velocidade na construção do castelo pelos Templários.

A descoberta de algumas moedas romanas no interior poderão indiciar que ali terá existido uma atalaia desse período. O facto da construção do castelo ter sido iniciada quando a Ordem trabalhava na torre de menagem do castelo de Pombal, explica que ambos tenham inscrições muito semelhantes, executados pelo mesmo pedreiro e com textos quase coincidentes.




Uma outra inscrição, sobre a porta da sacristia do Convento de Tomar e também datada da era de 1209, é semelhante à de Pombal exceto na enumeração dos castelos, incluindo os de Idanha e Monsanto, sendo assim posterior à de Pombal, já que estes castelos foram construídos após 1171.

Em 1467, o comendador inaugura um altar na capela existente sobre a porta do castelo, desconhecendo-se como essa seria. Com a perda de importância estratégica, o castelo de Almourol fica ao abandono, referindo-se nas Memórias Paroquiais de 1756 que já assim estava há cerca de 100 anos, voltando a ser realçado no panorama nacional só no final do séc. 19, com os ideais do Romantismo.




É nessa época que recebe obras de restauro, desconhecendo-se, no entanto, o verdadeiro impacto provocado nas estruturas. As fotografias existentes, contudo, documentam os panos de muralha virados a poente, a sul e os cubelos a nascente sem ameias, tendo o parapeito ameado sido acrescentado.

O atual cubelo ultra-semicircular do topo poente do recinto superior era fechado e tinha dois vãos amplos e a frente sul estava bastante danificada, explicando-se assim que dois dos cubelos reconstruídos sejam atualmente ocos e desprovidos de funcionalidade.







Castelo de Ozêzere

 

Castelo desaparecido, (re)construído na segunda metade do séc. 12, pela Ordem do Templo, possivelmente sobre um outro mais antigo, visto o documento de doação explicitar doar o castelo de Ozêzar e seu termo.




Implantado em local estratégico, sobranceiro à zona de confluência entre o rio Tejo e o Zêzere, integrava-se na rede defensiva do vale do Tejo, formando linha com os castelos Templários da Cardiga, também na margem norte (v. IPA.00002038), e o de Almourol (v. IPA.00003404).




Desde muito cedo, deve ter sido abandonado, já que no início do séc. 16, o castelo estava "muy damnificado, e a mayor parte delle deribado por terra", tendo a Ordem de Cristo no local várias terras emprazadas, com casas, uma delas tendo associado um celeiro, e outra tendo uma estalagem, uma adega, um palheiro, um forno, uma estrebaria, ali se erguendo também a igreja alpendrada de Nossa Senhora do Zêzere, construída ainda em finais do séc. 12, mas demolida no início do séc. 20.




O fato de não se conhecer nenhuma descrição ou representação do castelo de Zêzere, não possibilita a sua definição tipológica ou caracterização.

Mais tarde, o monte do castelo voltou a ter importância estratégica, visto permitir defender uma zona de penetração inimiga. Assim, existe um projeto, da segunda metade do séc. 18, para a construção de uma ampla fortificação à moderna, por ordem real, com grande armazém de pólvora, de que apenas foi construída uma pequena parte, e um desenho de 1828 documentando a existência de três baterias para defesa da ponte militar de barcas de acesso à vila de Constância.

Por estas razões, torna-se difícil datar o pano de de muralha ainda subsistente.




Castelo de Penas Róias

 

 

Castelo construído no séc. 12, pela Ordem do Templo, a norte do rio Douro, possivelmente sobre uma fortificação mais antiga, talvez muçulmana, para defesa da fronteira leste de Portugal com o reino de Leão e Castela, formando linha com os castelos de Algoso, da Ordem do Hospital, Outeiro, da Coroa, e com o de Mogadouro e Longroiva, também dos Templários.




Apesar da ruína em que se encontra, constitui um bom exemplo de castelo roqueiro românico, construído num esporão rochoso com condições naturais de defesa, de planta subtrapezoidal, de que conserva pequenos troços de muralha, e parte de duas torres semicirculares a nascente que, segundo Mário Barroca, apesar de sugerirem uma anterioridade em relação à obra templária (BARROCA, 2000, CD-ROM), não estão ligados à arquitetura leonesa, conforme defendido por outros autores, mas antes a uma superior qualidade construtiva.




Isolado a meio do pátio e sobre o afloramento mais inacessível, dispõe-se a torre de menagem, a quarta torre de menagem mais antiga e datada associada aos Templários.

Tem planta quadrangular, mas adaptada ao afloramento, o que confere certa inclinação aos paramentos, que são aprumados e de três pisos, o inferior sobrelevado com porta de verga reta, com inscrição alusiva à construção em 1172, acessível por meio de escada móvel, e interiormente iluminada por seteiras, rasgadas em cada uma das faces e, no último piso e certamente resultante de reforma posterior, por janelas com balcão.

Segundo o desenho de Duarte de Armas, o castelo tinha duas portas, a principal, a oeste, e a porta falsa ou da traição, a nascente, na encosta mais íngreme, uma barbacã da porta, que culminava no que parece ser uma torre albarrã, com passadiço em ângulo reto e onde se apoiava a cerca da vila, então já abandonada, e ainda uma segunda linha de muralha, desenvolvida no sopé do monte, junto à povoação.

A letra da inscrição na porta da torre de menagem é de má qualidade gráfica e tem características similares às da inscrição do castelo de Longroiva (v. IPA.00006489). Apesar da Ordem ter tomado posse dos castelos de Penas Róias, Mogadouro e Longroiva em 1145, parece que só depois de ter concluído o castelo de Tomar, que a absorveu completamente durante uma década (1160-1169), é que investiu na sua reformulação arquitetónica.







Castelo de Mogadouro

 

 

Castelo construído no séc. 12, pela Ordem do Templo, a norte do rio Douro, possivelmente sobre uma fortificação mais antiga e elementar, para defesa da fronteira leste de Portugal com o reino de Leão e Castela, formando linha com os castelos de Algoso, da Ordem do Hospital, Outeiro, da Coroa, e com o de Penas Róias e Longroiva, também dos Templários.




Constitui um bom exemplo de castelo roqueiro românico, com planta ovalada, de que conserva alguns troços de muralha, por vezes fruto de reconstrução moderna, mas os primitivos com aparelho em escama, conservando apenas a torre de menagem, no interior do recinto, com paramentos aprumados, rematados em parapeito ameado e rasgada por seteiras, e, no piso térreo de duas faces, por vãos retilíneos ou abatidos, resultantes da adaptação das casas do castelo que a ela se adossaram para paço dos comendadores, no séc. 14.




Segundo Mário Barroca, a torre de menagem, pelas suas características tipológicas, pode ser atribuída à "fase templária" do castelo de Mogadouro, atribuída a cerca de 1172-1174, podendo incluir-se dentro dos primeiros exemplares portugueses deste tipo de construções, não devendo estar muito desfasada da construção da torre de menagem do Castelo de Penas Róias, com inscrição de 1172.

Os afloramentos rochosos sobre a qual se ergue a torre sofreram cortes artificiais, que melhoraram as condições de defesa do local, sendo evidentes na vertente voltada ao Largo da Misericórdia. J




unto à torre conserva-se pano de muro com a porta do antigo castelo, em arco. Os desenhos de Duarte de Armas representam o castelo com várias torres, uma delas, pentagonal, e cubelos semicirculares, revelando diferentes épocas construtivas, nomeadamente posteriores à fase Templária.

Conserva ainda cubelo prismático a poente, o antigo poço ou cisterna e pequeno troço da barbacã, que era bastante extensa. Apesar da Ordem ter tomado posse dos castelos de Mogadouro, Penas Róias e Longroiva em 1145, parece que só depois de ter concluído o castelo de Tomar, que a absorveu completamente durante uma década (1160-1169), é que investiu na sua reformulação arquitetónica.




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